The kiwiSDR PY2-81502 SWL is installed in the middle of this grove (São Bernardo do Campo SP, Southeastern Brazil).

18/09/2010

PERFIL: Pedro de Castro - Lorena SP

Segmento voltado a radioescutas, DXistas e radioamadores que relatam sua trajetória no rádio, eles mesmos, em suas próprias palavras. A gratidão a estes, que gentilmente compartilham sua vida na radio-comunicação, estimulando a tantos outros que seguem o mesmo caminho.
Este material foi enviado com exclusividade para a RadioWays. Qualquer reprodução parcial ou total do mesmo deverá seguir orientação prévia do titular deste site e/ou do autor da referida matéria.
PEDRO DE CASTRO
Radioescuta (SWL)

Posso informar com precisão o dia em que fui contaminado pelo vírus 'radiococus': tudo começou em 18 de agosto de 1964, quando minha irmã completou 15 anos e ganhou de presente um radinho Mitsubishi com capa de couro. Eu tinha 9 anos e fiquei hipnotizado quando aquele objeto mágico começou a falar em idiomas que desconhecia.

Como o acesso a aquele rádio era restrito, passei a dedicar mais atenção a uma radio-vitrola Pioneer de meu pai, que ficava num canto da sala. Seu receptor, até aquele momento, não havia despertado minha curiosidade, talvez por estar escondido dentro de um móvel grande e pesado. Mas logo descobri que também podia viajar por suas ondas curtas, e ele se tornou minha primeira janela para o mundo.

Em 1968, pouco antes de completar 15 anos, foi minha vez de ganhar um rádio. Como já conhecia alguns dos atributos que um bom receptor deveria ter, escolhi um da marca GE, que tinha faixas ampliadas. Com ele pude incursionar por áreas ainda desconhecidas e aprender mais. Lembro-me perfeitamente que em dezembro daquele ano acompanhei a missão Apollo 8 pelo serviço brasileiro da Voz da América, e que anotava cuidadosamente os horários e freqüências das próximas transmissões relativas a aquele vôo histórico.

Em 1971 descobri o programa “Editor DX” da Rádio Suécia. Fiquei sabendo que havia outras pessoas fazendo o mesmo que eu, e que era possível enviar informes de recepção para as emissoras e receber cartões QSL. Minha dificuldade, entretanto, consistia em não saber os endereços da maioria das emissoras e em não ter segurança quanto às suas freqüências. Este problema foi finalmente resolvido em 1972, quando consegui comprar o primeiro WRTH.

Através da Rádio Suécia conheci o Professor Robert Veltmeijer. Depois de ver seu nome em um boletim DX, descobri seu telefone e fiz o primeiro contato. Para minha surpresa, ele me atendeu com enorme simpatia e me convidou para conhecê-lo em São Paulo. Estive por 4 ou 5 vezes em seu apartamento no Largo do Arouche e adquiri por ele uma grande admiração e respeito. Lembro-me daqueles dias com nostalgia.

Fiquei inativo na década de 80 e no início dos anos 90, por conta de trabalho, construção de casa e casamento, mas retornei em 1992. Ao associar-me ao DX Clube Paulista (posteriormente DX Clube do Brasil) senti-me como se estivesse fazendo aquela pós-graduação tão sonhada. Sempre fiz todo o possível para participar dos encontros promovidos pelo clube. Faltar seria como perder aulas que não poderiam ser repostas.

Se o cachorro (tenho dois) é o melhor amigo do homem, meus rádios (tenho muitos) também foram e continuam sendo amigos infalíveis. O rádio representa para mim uma fonte inesgotável de conhecimento, de entretenimento e de boas amizades. Serviu-me, literalmente, para abrir as muitas estradas que percorri, de Porto Alegre a Nova Iorque.

Nos anos 60/70 tudo era demorado, escasso, caro e de difícil acesso, inclusive o conhecimento. Mesmo assim nós o perseguíamos. Com o advento da Internet, os avanços da tecnologia e a queda geral dos preços, tudo o que antigamente demandava tempo e esforço se transformou em commodity. Por outro lado, tornou-se escassa a curiosidade dos jovens, bem como seu interesse por adquirir conhecimento. Inverteram-se os sinais. Quando vou a uma lan house e vejo a garotada usando uma ferramenta poderosíssima para desperdiçar seu precioso tempo em atividades que não agregam nenhum valor, penso comigo: a propagação fechou; o jamming e a QRM se sobrepuseram a tudo. Deus deu asas para quem não quer voar.

Pedro de Castro - Lorena SP
15.09.2010

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