Segmento voltado a radioescutas, DXistas e radioamadores que relatam sua trajetória no rádio, eles mesmos, com suas próprias palavras. A gratidão a estes que gentilmente compartilham sua vida na radio-comunicação, estimulando a tantos outros que seguem o mesmo caminho.
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WILSON RODRIGUES
Radioescuta (DXista), Conselheiro do DX Clube do Brasil
Cartão QSL utilizado por ZZ4-0012 Wilson Rodrigues como SWL
"Nasci em uma época em que grande parte da minha cidade não tinha energia elétrica, 1950! E assim que o sol se punha no horizonte, já íamos para a cama muito cedo, como dizem aqui em Minas Gerais, deitávamos com as galinhas! Assim que a energia elétrica chegou, meu pai que era marceneiro, e quando eu já estudava por correspondência a ciência da radiotécnica, necessitava apenas de energia elétrica para aquecer seu ferro de solda de 60watts para construir um receptor de rádio, porque já tinha um Kit do mesmo numa caixa vindo de São Paulo!
Assim que o receptor ficou pronto, o rádio passou a ser o que a TV é hoje para a maioria das famílias pobre do Brasil. Puro entretenimento! Tenho lembranças mais precisas do ano de 1957 então com 7 anos, e já me encantava com as novelas, e rádio-teatro que faziam a felicidade daqueles que nem sempre tinham dinheiro para pagar a entrada no cinema!
Às 19horas de Brasília, quando iniciava em todas as emissoras o programa "A Voz do Brasil", me lembro que meu pai, iniciava sua busca por emissoras diferentes, de outros países! Imagino que todas as regiões que estavam em completa escuridão como o Brasil, poderiam eventualmente serem ouvidos aqui em Minas. Muitas emissoras da Argentina chegavam com bom sinal em Ondas Médias, pois o nosso receptor só tinha esta banda.
Mais à noite lembro-me bem das emissoras que tocavam músicas clássicas, jazz, polcas dentre outras, todas emissoras da Europa segundo meu pai comentou muitos anos depois.
Aos 10 anos, já tinha o vírus do "Radiococus Frequency" no sangue, pois já sabia ligar e procurar as emissoras que mais me agradavam! Nossa antena era um grande fio esticado no grande quintal, e nos dias de chuvas e muitos relâmpagos, a antena era desligada, mas a curiosidade em escutar as novelas fazia eu ligar o receptor e ficar com a mão segurando o cabinho que saia atrás do rádio para ir a antena, e como o corpo humano funciona como uma antena, eu conseguia ouvir o programa predileto apesar dos choques constantes principalmente quando esquecia e colocava os pés no chão e tomava um baita choque pois, o rádio era daqueles chamados, “rabo quente” uma vez que os mesmos não tinham um transformador que isolava a entrada de 110 V da rede! A tensão da rede ia direto em um resistor abaixador e posteriormente ao circuito de alimentação! Ou seja, se você pegasse no cabo de entrada da antena do rádio com os pés no chão, tomava um choque muito forte!
Tal façanha sempre era descoberta pois invariavelmente eu dava algum grito ou quase jogava o rádio no chão o que provocava a ira do meu pai que tinha alertado anteriormente para não ligar o rádio quando estivesse com mau tempo! Mas a curiosidade era tanta em saber o que ocorria na novela que eu sempre ignorava o alerta!
Não temos como comparar o rádio daquela época dos anos 60,70 e 80, pois o dial era muito cheio de emissoras diferentes não tinha as redes, e nem se ouvia tantas emissoras religiosas!
Outro fator importante a favor do rádio era a ausência completa de ruído elétrico tão comum hoje em dia. As faixas eram silenciosas, pois não tínhamos as famigeradas lâmpadas eletrônicas, nem os equipamentos modernos geradores de ruídos que apagam qualquer sinal de rádio, alguns inclusive na banda de FM que também já é atingida por ruídos de máquinas operatrizes!
Já na década de 70 me interessei em montar meu primeiro rádio moderno com transistores. Numa montagem meio apressada, um receptor que era para funcionar de 6000KHz até 9000KHz só funcionou de 6900KHz até 7320KHz e o que escutei neste segmento foram só os radioamadores que eu conhecia apenas em revista e escutava ocasionalmente! Mas como o meu receptor só escutava a banda de radioamador, eu passei a me interessar por esta banda, principalmente as estações de AM que abundavam a faixa! Com o tempo passei a usar outro receptor para dar batimentos nas estações que operavam em SSB e em telegrafia (CW) e compartilhava meu tempo escutando os radioamadores e as emissoras de radiodifusão em outro receptor!
Já em 1976 passei a ter interesse em também transmitir sinais de rádio, e ingressei no radioamadorismo e consegui meu primeiro indicativo de chamada, PY4XGH, meu primeiro transmissor foi uma montagem caseira que quando ligado dava uma enorme interferência na TV da minha casa (possivelmente nos vizinhos também) mas sanado este problema comecei a me comunicar principalmte em telegrafia. Depois me interessei mais pela radioescuta de radioamadores e consegui no antigo DENTEL uma licença com o indicativo ZZ4-0012, e assim passei a enviar cartões QSL para todas as estações de amadores ouvidas. Mensalmente chegavam para mim centenas de QSL dos mais diferentes países. O meu caso foi inverso da maioria dos amadores – de radioamador passei a radioescuta.
Em 1992 conheci o DX Clube Paulista (atual DXCB) e filiando-me ao mesmo participei de uma reunião do clube na casa do coordenador do mesmo, Carlos Felipe da Silva, na cidade de São Bernardo do Campo – SP onde em contato com dexistas experientes passei a ter uma noção diferente do hobby, uma vez que isolado no interior de Minas Gerais, sem ser filiado a nenhum clube dexista, ou receber revistas ligadas ao hobby, desconhecia muitos parâmetros que facilitam e ajudam a evoluir na nossa atividade de escutar rádio, mas com outro olhar! Daí vieram os novos contatos com outros dexistas, participação em DX-pedições em outras localidades e a beira mar!
Em 1997 consegui a tão sonhada casa no campo, e pude espichar as minhas antenas de fio comprido e muitas outras que nos dão o belo sinal de emissoras distantes. Nosso QTH rural passou por um bom tempo a ser a “Meca dos Dexistas” nome dado pelo nosso amigo dexista, Francisco Turelli, da cidade de Angatuba – SP, pois para lá se dirigiram inúmeros dexistas de diversas regiões, para as suas tradicionais DX-Camp já conhecidas dos dexistas e radioescutas mais antigos!
Hoje com um pouco mais de 60 anos de idade, ainda continuo ativo nas escutas de emissoras de radiodifusão, radioamadores e enfim qualquer sinal diferente no dial. O rádio no momento passou a ser mais um instrumento para fazer amigos, seja no radioamadorismo ou na radioescuta através do DX Clube do Brasil que serve de intermediador, ou como elo de ligação com outros amantes do rádio.
Como todo radieoscuta e dexista que se presa tenho um posto de escuta onde não faltam cartões QSLs, inúmeros rádios modernos e valvulados, e muitas, mas muitas quinquilharias eletrônicas ligadas ao rádio. E sempre tive as portas do meu QTH principal e rural, abertas aos amigos de rádio, razão maior do meu hobby!
Wilson Rodrigues
09.09.2010"